sábado, 26 de fevereiro de 2011

bençãos.

Bem hajas oh luz do sol, dos órfãos agasalho e manto.
Imenso e eterno farol, neste mar largo de pranto.
Bem hajas água da fonte, que não desprezas ninguém.
Bem haja a urze do monte, que é lenha de quem não tem.


Bem hajam rios e relvas, paraíso dos pastores.
Bem hajam as aves das selvas, música dos lavradores.
Bem haja o cheiro da flor que alegra o lidar campestre.
E o regalo do pastor, a negra amora silvestre.

Bem haja o repoiso e a sesta, do lavrador e da enxada.
E a madressilva modesta, que espreita à beira da estrada.
Triste de quem der um ai, sem achar eco em ninguém.
Felizes os que têm pai, mimosos os que têm mãe.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

amores de areia e vidros

Que fazes tu louco homem? Pensas que é tudo assim tão simples, que podes escolher amantes como quem colhe rosas dum quintal? Para beijos e abraços, braços e pernas, não faltam pretendentes, mas não queres ser senhor de alguém? Deixa de ser a mão que és e passa a ser um braço, um ombro, um peito, um coração. Perdes-te por dor e pecado, lume e ciume e tudo o que mais existe por nada, por uma noite numa praia deserta, com alguém cujo nome passará a ser apenas um número para ti. Queres ser como ela? Como aquela meretriz que agora tanto desprezas? Deixa a soberba e vaidade que trazes nos teus brilhantes e entrega-te de vez a quem te ama de verdade. Deixa a paixões de cavaquinho e copo do vinho e aceita o amor do tempo e o tempo que esse amor traz. Não queiras ser como ela que acordou tremendo, de manhã, na areia, sem olhos para lhe penetrarem o coração.

Sai desse barco negro e aceita a estrela que te queiram dar. Eu por ti rezo, para que ainda tenhas alguém à tua espera.