domingo, 31 de outubro de 2010

sonho número três: encontro na montanha do fogo

Após três dias perdido num floresta, segui um gato tão negro como a noite. Ele levou num à procura de uma estrada. (que comece então uma nova demanda).
Levou-me até uma estrada de terra batida. Ali, os dias não acabavam. Vi no céu uma chama com duas mulheres, uma com um manto vermelho, e uma menina com um coração em chamas na mão direita. A mulher mais velha e mais sábia disse-me para não fazer mais perguntas e apenas seguir a estrada, mesmo assim, descalço.

Até amanhã, disse-me.
Até amanhã se Deus quiser.
Hei-de querer, o meu coração está entre vós.

Eu sou a verdade
Eu sou o caminho.
Ninguém chegará ao azul sem mim.

Havia um homem enterrado, coberto de dúvidas dos seus crentes. Fora a sua mulher quem o matou - ou a sua filha -, com balas prateadas, como se mata outro qualquer. Dizem por aí que Ela gosta de destruir as vidas alheias, de homens perdidos que não sabem governar, mas quando já nada resta, tira a alma a esses pobres coitados.

Eu sou a verdade
Eu sou a escritura sagrada.
Sem mim não há azul, nem outro caminho.

Até amanhã se tu também o quiseres.
Acredito num só deus todo e poderoso.
Acreditas em mim, disse-me, e meu agora é o teu corpo e o teu peito.

sábado, 30 de outubro de 2010

cartas perdidas: a perfeição ilusória inacabada

Teremos que nos transfigurar para nos podermos amar. Teremos que nos aparecer a nós próprios enquanto outros seres, para que possamos construir nova história. Deitar fora todos os pergaminhos, e escrever tudo de novo.
Desta vez, viveremos como deuses, afastados da mesquinhez do pensamento e do trato humano. Seremos harmonia com as flores, com o canto das aves e com o crepitar da fonte. Seremos a água que dela jorra, e onde o soldado se vai refrescar. Não seremos nem mais, nem menos, daquilo que devemos ser. Existiremos como uma unidade cósmica, que deambula pela natureza, e que se renova sem cessar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

poemas nocturnos #1: hoje.

hoje.

sou apenas o retrato de um homem.

sou apenas uma mala de senhora.
sou a tua colagem do sétimo ano.
sou o teu espelho no outono.

sou um homem sozinho na rua.
e com dois cigarros no bolso
procuro a sobriedade.

não quero negligenciar o nosso amor.
quero que os teus gatos gostem de mim.

nunca escolho os lados, nunca escolho entre os dois,
pois só te quero, só quero a ti.