domingo, 17 de julho de 2011

Os teus lábios são os meus lábios. O teu corpo é o meu corpo.

Avançam sobre a relva com passos furtivos, se bem que com a segurança que lhes é devida, a de não serem perturbados. A corrente da alma escoa-se naquela direcção; não podem fazer outra coisa senão partir, deixando-me a sós. A escuridão envolveu-lhes os corpos; que canto estarei a ouvir; o do mocho, o do rouxinol, ou o da carriça?


Caiu um peso na noite, o que a fez afundar. As árvores parecem maiores devido a uma sombra que não é a que lhes está atrás. Ouço os ruídos que me chegam de um cidade cercada, quando os turcos estão esfomeados e de mau humor. Ouço-os gritar num tom agudo.


Tudo parece estar vivo. Esta noite não consigo ouvir morte em parte alguma.

Tive que apagar a luz

Se fosse num comboio e um caixeiro me oferecesse um pouco de rapé, por certo que aceitaria. Oh! O mais certo seria fazer-me entrar em danças selvagens....


Está na hora de entrar em casa, numa casa seca, habitada, descomprometida, num local carregado de tradições, objectos, montanhas de lixo e tesouros espelhados pelas mesas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Circus

Em Circus há uma curiosa sensação e portanto estranha familiaridade nos olhares das pessoas, nos recortes dos locais. Não existe o glamour dos bastidores, apenas o esforço destas pessoas em mostrarem-se mais um pouco. Assumem assim as suas stage personas fora do palco, estendem a sua fachada, são freaks por mais um bocadinho. Aqui não existe o "momento decisivo", apenas um momento. Nas palavras de Susan Sontag, Nenhum momento é mais importante que outro, nenhuma pessoa é mais interessante que outra.

A câmara é o veículo mais fluido para encontrar aquela outra realidade. O prolongar do espectáculo, o prolongar da identidade, da falsa identidade. Os rostos são apenas uma pequena referência do que é ser humano, nesta teia de outsiders, onde qualquer um pode ver o seu próprio rosto, e perceber que também está de fora. Aqui existe a aceitação, a aceitação de uma nova realidade, estranha e imaginada, onde tudo parece tão verdadeiro como a outra.

Reflexão sobre Circus, de Sara Reis