domingo, 19 de setembro de 2010

o meu gato tem insónias III

Abre meus olhos, meu amor
E verei o dia!
Visitação do sol, oh luz.
Ilumina a vida.
Guia-me pela mão, sê a lâmpada dos meus pés
Que em tudo vacilam.

À fonte vou que é minha cruz,
Vou levar meus olhos.
De lá caminha o meu amor,
De lá vem o troar da trompa.
Venha o Sol! Venha o Azul!
E comece o Mundo!

sábado, 18 de setembro de 2010

sonho número dois: alice

Esta distância cada vez mais me perturba. Custa-me que ainda ninguém perceba que tu está bem, assim como eu estou bem. Mas se ousar dizer que sei que tudo que eles dizem sobre ti é mentira, mandam-me para junto de ti. Como as paredes devem ser mais altas e mais apertadas. Sempre me imaginei como tu, presa, num tubinho de papel, sendo uma moeda a subir pelas paredes. Os casacos brancos com os quais eles te prendem, não servem mais que para te prender das mãos, para te impedirem de ver que ainda consegues controlar os teus sonhos. É isso que eles nos querem fazer, querem nos impedir de sonhar, de poder sonhar. Como eu sinto a tua falta.

Sempre que não atendes as chamadas, penso que encontraram os corpos.

domingo, 12 de setembro de 2010

o meu gato tem insónias II

Tenho medo. As paredes tornaram-se negras e espessas. As divisões comprimem-se, apertando o ar, e eu asfixio. Estou tonto. Dentro delas aparecem cadáveres; crânios que gritam. Som estridente, suspenso e ensurdecedor. Relembram os erros do ser, que de humano tem pouco. Estou enjoado. Há um palhaço triste dentro de casa.

Sei que pela hora em que o portão chiou, foi a última vez que me amaste com o teu olhar. Era madrugada, e já um de nós havia morrido. Toda a música era o canto do corvo.

Socorri-me do branco pó que um dia me ofereceste. O que existirá depois do azul?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

o meu gato tem insónias

Porque choras em silêncio, pobre mulher?
Porque fazes da tua vida o trabalhar incessante nesse tear?
Quem te sujeitou a tal sorte?
Por que linhas te coses?
Qual o fio da tua vida?
Se o amarrares, reconhecê-lo-ás?
De onde vem ele, e para onde vai?
Com quem se entrelaça?
Julgas, assim, tecer o teu próprio destino?
Pobre mulher, porque choras em silêncio?