Perdi a minha alma, pois também perdi a minha Inês.
Acabei de sair do barco, procuro rumo, um oriente que me oriente, quero pôr os pés na terra e encontrar o teu abraço. Só me recordo dos recortes do teu rosto, de como o teu sorriso brilhava mais que todas as luzes, tornando a tua face a mais bela das minhas pinturas. Vejo o barco da morte à minha frente, envergada por almas perdidas fazendo um mar. A morte, esta da letra pequena, carrega a sua companheira que nunca esqueceu e sente o peso de tudo que tem que encontrar. Esta cruz pesa mais que uma outra que diz carregar a paz do mundo. Esta carrega os horrores de todos os homens, leva os sonhos a pesadelos e faz adultos das crianças. Perante esta cruz todos isão guais, não são mais que os próximos a levar esta barcaça. Mas ainda não é a minha vez, tenho que seguir e encontrar-te. Desvio-me e ouço cães uivar. Sentem o meu cheiro. Estão cada vez mais próximos e querem levar-me com eles. Do meu estômago sem fios de luz que escorregam como serpentes. A minha alma escapa-me à medida que vou andar. O cães estão cada vez mais próximos, são como fumo, negro e de olhos com safiras. Tentam agarrar-me mas já estou próximo de tua casa. Vou esperar aqui, debaixo deste candeeiro que não me responde. Levanto as mãos e acendo-o. A sua luz azul aquece-me.
Vejo-te a sair do prédio. Pedes que te siga. Sigo.
Vejo safiras ao longe, por entre o nevoeiro, e o rio que sangrei.