sexta-feira, 30 de julho de 2010

(sem) abrigo

Fiquei horas a olhar para o vazio,
Mas ele nada me respondeu.
No escuro perfilaram-se os teus traços,
Mas o teu rosto não apareceu.
Finalmente adormeci,
E no meu sonho te ouvi,
E o meu mundo estremeceu.
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Perdoa-me a débil escrita, mas a mão que segura esta pena está fraca. Não é a mesma que outrora te acariciava o rosto, e te afagava no meu regaço.

terça-feira, 27 de julho de 2010

campanhã, porto, 2007

Em Dezembro, bebendo black russians, ouvi-te falar das tuas angústias.

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Não importa para onde parte este comboio, desde que estejas comigo.

(In)finito

Uma vez li uma frase de um escritor francês do qual não me lembro do nome, o homem dissipa a sua angústia inventando ou adaptando desgraças imaginárias. Nunca percebi o seu significado, simplesmente sempre achei que era algo bonito para dizer em alturas de pouca inspiração. Como hoje. Mas hoje nem há angústia. Apenas o vazio. E foi neste vazio que encontrei a solução para uma antiga questão, onde posso encontrar o homem perfeito. Numa fase inicial, procurei-o nas ruas, em velhos escritos, em retratos sujos a preto e branco, até dentro de mim. Nada, não encontrei nada.

Sempre tive este estranho vício de criar pessoas mais trágicas que eu, ainda mais falhadas, traídas pelo destino, tal como eu. Até o dia em que conheci o homem que sempre quis criar, eloquente, atraente, sério e talentoso. Ali estava ele, com vinte anos, loiro, de olhos castanhos, mais profundos que o mar e mais quente que o sol. O sorriso dele, era perfeito, sincero. Ele era quem eu queria ser, mas ninguém é quem queria ser. Tentei prendê-lo às minhas folhas mas não consegui. (ainda bem que alguém o prendeu aos seus braços). Ele se calhar não é o homem perfeito, mas sei que é um bom homem. Espero sempre ver aquele brilho no olhar.

Se um dia ele passar pelo mesmo caminho que eu, que encontre um rapaz de rosto rosado que lhe solte um sorriso.
o homem dissipa a sua angústia inventando ou adaptando desgraças imaginárias, disse Raymond Queneau, mas talvez seja mais fácil, por vezes, dissipar as angústias inventando histórias de amor, como as que eu vos quero escrever.

(és sortudo por o teres, e ele a ti)

sábado, 24 de julho de 2010

abrigo

Construí um abrigo para só nós existirmos. E onde só nós existimos.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

crónicas de um soldado apartado: cárcere

Escravo me fizeram os meus inimigos. Beberam do nosso vinho, e fuderam as nossas mulheres. Agora remamos rumo a suas terras, terras malditas que tanto cobiçamos, que serão nossa prisão doravante. Cárcere maldita. Vomito as minhas entranhas e o fel que me deram para sustento do corpo, que a alma, essa, insustentável está. Esfiou-se em farrapos. Cheira a merda, e a podridão e a fome e a morte. As feridas do chicote com que nos incitam escorrem seu sangue para meio da imundice. Preferia morrer, Maria. A morte a isto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

cartas perdidas: maria ou inês

Ontem falei com a tua irmã. Parece que está tudo bem. Já não há motivo pelo qual nos preocuparmos.
Também reparei que mudaste de nome. Já ninguém te trata como eu tratava. Agora tens um marido. Já não precisas de te sentir especial. Já não precisas de algo só nosso. Muito provavelmente já existe algo só vosso.
Mudaste de nome, já não precisas de mim,


Eu era o teu verme e tu a minha rainha, agora não sou mais que um parasita que te vê ao longe.

terça-feira, 13 de julho de 2010

sonho número um: as (des)aventuras da minha alma

Perdi a minha alma, pois também perdi a minha Inês.

Acabei de sair do barco, procuro rumo, um oriente que me oriente, quero pôr os pés na terra e encontrar o teu abraço. Só me recordo dos recortes do teu rosto, de como o teu sorriso brilhava mais que todas as luzes, tornando a tua face a mais bela das minhas pinturas. Vejo o barco da morte à minha frente, envergada por almas perdidas fazendo um mar. A morte, esta da letra pequena, carrega a sua companheira que nunca esqueceu e sente o peso de tudo que tem que encontrar. Esta cruz pesa mais que uma outra que diz carregar a paz do mundo. Esta carrega os horrores de todos os homens, leva os sonhos a pesadelos e faz adultos das crianças. Perante esta cruz todos isão guais, não são mais que os próximos a levar esta barcaça. Mas ainda não é a minha vez, tenho que seguir e encontrar-te. Desvio-me e ouço cães uivar. Sentem o meu cheiro. Estão cada vez mais próximos e querem levar-me com eles. Do meu estômago sem fios de luz que escorregam como serpentes. A minha alma escapa-me à medida que vou andar. O cães estão cada vez mais próximos, são como fumo, negro e de olhos com safiras. Tentam agarrar-me mas já estou próximo de tua casa. Vou esperar aqui, debaixo deste candeeiro que não me responde. Levanto as mãos e acendo-o. A sua luz azul aquece-me.
Vejo-te a sair do prédio. Pedes que te siga. Sigo.

Vejo safiras ao longe, por entre o nevoeiro, e o rio que sangrei.