segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Hipopótamo

Um dia quis escrever um livro. Estava a fumar um cigarro na minha varanda e a ter uma conversa comigo mesmo. Pensei no café que tomava e como era demasiado cremoso. na embalagem dizia aveludado, quando devia dizer cremoso. Pensei na pontuação e como não queria ter trabalho com isto. Pensei num titulo. Conversas com o meu cigarro. Conversas de cigarro. Monólogos do cigarro. Monólogos de cigarro. Tudo me parecia pretensioso e forçado. Da minha varanda, conseguia ver um bar de strip e os monólogos de cigarro passaram a monólogos despidos. Mas fiquei enjoado. E não subitamente enjoado. Se ficasse subitamente enjoado, já estaria a fazer demasiado esforço e este livro era suposto ser simples, como se as ideias surgissem e aparecessem no papel. Mas não apareciam no papel, eu teria que ligar o computador, abrir o processador de texto, escolher o tipo de letra, o alinhamento, o tamanho. A ideia estava a ficar demasiado mecânica. Voltei a pensar nas stripers. Monólogos despidos não fazia sentido. Comecei a pensar em sexo e ligações intimas e corpos suados e prazer e gritos e dor. Estava tudo a ficar muito porco. Havia muitos "e". Queria escrever sobre as ideias que tenho quando estou sozinho. Sobre esses pensamentos solitários, sem pensar muito neles. Lembrei-me que gosto de hipopótamos. Se calhar podia escrever um livro sobre hipopótamos, ou sobre o que eu penso deles. Eu gosto de hipopótamos. Acho que gostar das minhas ideias é como gostar de hipopótamos, quando começo a dizer isso muitas vezes, a ideia de gostar dessa ideias, ou dos hipopótamos, começa a soar estranha.

Se um dia escrever um livro vou lhe chamar hipopótamo. Sem nenhuma razão especial. Só porque gosto de hipopótamos.

Sem comentários:

Enviar um comentário