quando Almada viu César, segundo o primeiro.
Almada viu César pela primeira vez, sentado numa esplanada de um café, numa tarde outonal. O recorte do vermelho das árvores, pintalgado pelo laranja fim de tarde do céu. Vestia castanho, e Almada não repararia nele caso este não envergasse um curioso cachimbo de cor azul eléctrico. Examinava-o com curiosa atenção. Depois, acendeu-o e fumou-o, como se tal fosse seu hábito desde sempre, e nele encontrasse indelével prazer.
O pitoresco quadro que diante dos seus olhos acabara de ser pintado, obrigou Almada a deter-se na beira da estrada mais tempo do que aquele que juraria ter estado a contemplar. Porém, não foi com surpresa que reagiu, quando o sujeito que fitava lhe ergueu a mão, em sinal de cumprimento. Era Almada, na verdade, quem estava a ser contemplado.
Desarmado, avançou tremulamente por entre as caixas de metal que expeliam fumo, e que nos últimos anos vinham invadindo a cidade. Almada odiava-as. Agravam diariamente, com seus excrementos tóxicos, a sua débil condição. Porém, hoje, socorria-se delas. De tudo o que servisse para retardar aquele encontro. Almada não entendia o porquê, mas temia aquela enigmática figura, tão banal como qualquer homem. Tremia.
-“Almada”.
-“César”.
Pediu um café. César acompanhou-o. Sem trocarem palavras, comunicavam. Mediam-se. Viam-se. Como era seu hábito, Almada lambeu delicadamente a colher no canto da boca, depois de mexer o café. Uma vez pousada a colher, César pegou nela, mexeu o seu próprio café e imitou o gesto.
Ali, naquele momento, algo foi selado. Uma gaivota, em voo raso, piou.
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