quando César viu Almada, segundo o primeiro.
Num final de tarde de primavera, César estava sentado numa simples mesa de café, com o seu cigarro e um livro,"O Amor nos Tempos de Cólera", numa versão bem antiga e já gasta. Esperava uma amiga que já não via há algum tempo. Era daquelas pessoas cuja existência era questionável, ele por vezes não sabia se ela não seria apenas uma figura da sua imaginação, como tantas outras, que habitaram e ainda habitam a sua cabeça. Quando ela entrou, transformou-se numa memória esfumada, que se desfazia com os raios de sol, pois os olhos de César apenas viam o homem que a acompanhava. Era Almada Zarco, viria ele a saber. Um jovem soldado que a amava a pátria e o seu cavalo. O seu corpo tinha uma leve luz vinda de trás que deixara o outro maravilhado. “Almada, César. César, Almada”. As apresentações foram feitas e os cafés foram bebidos. César reparou no peculiar ritual de beber café que o Almada praticara. Mexia o café, lambia a colher, e voltava a pousá-la. Secretamente, César sorriu.
A sua amiga, cujo nome e existência não tem importância para a história senão para ilustrar de forma coerente o encontro entre estes dois homens, tinha que ir embora, deixando assim, por momentos, César e Almada sozinhos no café sem muito que conversar, a não ser aquele livro que estava pousado na mesa. Mas mesmo assim não arriscaram entrar numa conversa que podia nunca mais acabar.
Almada tinha que sair, tinha que ir para a estação de comboio, de onde partiria para um local que nunca César soube qual era. Este fez-lhe companhia, fumando, sorrindo, um pouco envergonhado. Os seus olhos abraçavam aquela imagem para sempre, e ainda abraçam. Um homem, com o inverno aos ombros a ser abraçado pelo verão.
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