terça-feira, 29 de junho de 2010

crónicas de um soldado apartado: aurora

Corria uma brisa fresca, e o rumor das copas das árvores indiciava que a batalha estaria para breve. Já reunido ao batalhão, fitava, atónito, caras anónimas. Jovens. Inocentes. Aquele além não terá mais que 14 anos. A armadura sobeja-lhe no corpo, e é para ele antes um fardo difícil de carregar, ao invés de ser a sua segunda pele, mais rija; tampouco consegue envergar simultaneamente a espada e o escudo. Pobre mãe. Pobre filho. Roubou o reino a inocência àquelas lânguidas feições, àqueles pálidos olhos. Onde estarão os heróis de guerra? Ter-se-ão quedado no meio da peleja? Mas que meio?, se batalhas a serem travadas sempre houve; onde o início? Onde o fim? Soldados em desgraça… terão caído do seu cavalo, trespassados por uma ignóbil lança. E suas marias, que pensarão? Esperarão até ao fim dos seus dias, crentes de que o seu soldado, o seu homem, o seu amante, voltará cavalgando, vitorioso? Chorarão, quando se lhes chegar a maldita notícia? Chorarão, que todas as lágrimas ainda não foram choradas. Assim são as mulheres, choram na mesma proporção que amam. Por ora descansarei. Ao rumor das árvores, juntou-se agora o rufar dos tambores. Em mim, apenas minha alma se agita. O rapaz chora.

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